sexta-feira, 1 de abril de 2016

Ainda bem que não houve golpe

O mês de março de 2016 foi politicamente tenso. O que começou como manifestações contra a corrupção e insatisfação com o momento político/econômico do Brasil aos poucos foi tomando uma direção perigosa. Nós começamos a dividir nosso país e nossa nação no "nós" contra "eles", uma dicotomia estúpida como se só houvesse duas opções para tudo. Ou você é a favor do governo e portanto petista ou você é contra o governo e está do lado do PSDB. E a coisa foi ficando pior. Se você usa vermelho é comunista,  petralha, vagabundo e o nível só vai descendo. Se você não defende o PT você é fascista, elite, coxinha e não liga para povo. Tivemos grandes manifestações nesse mês e todas foram importantes. E importante principalmente para podermos observar que enxergar tudo sob apenas dois pontos de vista está equivocada. Será que todos que participaram da manifestação no dia 13 são a favor do PSDB/PMDB no poder ou "seguidor" do Bolsonaro? E os que são a favor da permanência de Dilma na presidência, será que todos que se manisfestaram a seu favor estão de acordo com suas decisões ou contentes com a situação do país atualmente? É claro que em ambos os lados há pessoas sem noção que levam posições e opiniões ao extremo e infelizmente esses não lutam e nem protestam por um país melhor, veem apenas seu próprio umbigo. 

Depois da manifestação do dia 13 que levou milhões de pessoas à rua, ouvi algumas comparações com a Marcha da Família com Deus pela Liberdade. Para quem não sabe ou não se lembra, essas manifestações  aconteceram em várias cidades do Brasil em março de 1964 e eram contra a "ameaça comunista" e antecederam a queda de Jango. Achei exagero. Fato é que depois dessa manifestação houve muita gente exaltada nas ruas e a tensão aumentou. As centrais sindicais, assim como militantes do PT e todos os simpatizantes convocaram manifestações a favor da presidente Dilma. Falou-se muito sobre golpe. O principal grito de guerra dos que vestiam vermelho foi "não vai ter golpe". Chegaram a comparar o momento atual com o vivido em 1964, e inclusive a cronologia dos fatos. Confesso que no dia 17 fiquei apreensiva e preocupada. Dadas as circunstâncias, temi que houvesse confrontos e uma onda de violência pela cidade. Cheguei a pensar no pior e desejei que não fosse necessário mortes para que buscássemos um melhor entendimento dos fatos e da situação. 
Para mim foi um alívio constatar que no dia 18 e nos dias que se seguiram não houve conflito, não houve consequência piores. Tivemos várias manifestações e dentro do possível (porque acho que ainda não compreendemos o sentido completo da palavra) houve democracia. Todos se manifestaram e ninguém precisou perder a vida por defender uma causa, um partido ou uma posição política. 
Hoje (ou melhor ontem, já passou da meia noite) o Golpe Militar de 1964 completou 52 anos, e mais uma vez fico contente por termos errados algumas previsões. Ainda bem que não houve golpe assim como no dia 31 de março de 64. Estamos livres disso? Não sei. Estamos no caminho certo? É difícil dizer. Dia 31 de março de 2016 já se foi, não cometemos o mesmo erro. Que março de 64 seja lembrado como um fato triste de nossa história e que sirva de lição. Não sei qual será o futuro do nosso país, mas esse dia independente de partido ou posição deveria ser um momento de refletir sobre que país queremos daqui para frente. 

sexta-feira, 11 de março de 2016

Por que a chuva castiga tanto São Paulo?

Todo ano São Paulo é castigada pela chuva, seja pela falta ou pelo excesso. É triste ver essas situações se repetirem sem solução. 

Hoje fui questionada sobre o motivo desses problemas e refleti sobre o tema (infelizmente as vezes se torna tão comum e habitual que nós nem questionamos mais) e comecei a pensar desde quando enfrentamos esses transtornos. Sabe o que é pior, a conclusão que eu cheguei é que faz muito tempo que isso acontece. 
Segue abaixo minha opinião sobre o tema:

Em primeiro lugar um dos grandes problemas de São Paulo é a falta de planejamento. Isso gera trânsito, enchente, falta de moradia, falta de mobilidade, entre outras coisas. São Paulo é uma cidade que foi sendo pensada conforme foi crescendo, e isso é um absurdo se pensarmos na dimensão que ela tem hoje.

Outro ponto importante; a cidade para quem não sabe é cortada por diversos rios e córregos, mas pela construção desordenada, muitos deles foram soterrados e canalizados, ou seja, por baixo de muitas ruas e avenidas passam grandes volumes de água que quando não tem para onde escoar enchem as ruas, é só observarmos o que acontece nas regiões perto de córregos e canais. 

Uma frase de Bertold Brecht explica muito bem essas situação: " Do rio que tudo arrasta se diz violento, mas não se  diz violenta as margens que o comprimem."

A força da natureza sempre vai se fazer presente. São Paulo tem muito concreto e pouco verde. Isso é um fato. 

A população também tem sua parcela de culpa. Como na foto que que vemos, infelizmente há muito lixo pelas ruas. As galerias subterrâneas (famosas boca de lobo) geralmente estão cheias de lixo e entupidas, o local que seria um dos pontos de vazão para a água da chuva, acaba sendo mais um agravante na enchente. 

E aí tem aquela parte dos políticos. Desde que eu era criança eu lembro das promessas de campanha para acabar com as enchentes. Imagino quanto dinheiro de obras já não foi desviado para o bolso de nossos ilustres representantes. A obra mais importante contra enchente que eu me lembro foram os piscinões, que se eu não me engano foram construídos na gestão Maluf (ele rouba, mas ele faz) e pelo que eu saiba o principal piscinão foi construído na regiões do Pacaembu (região que podemos considerar nobre). Houve a construção de outros piscinões, por outros prefeitos, em que também deveter havido muito desvio de verbas. Ah também tem as infindáveis obras nas Marginais. Também me lembro do alargamento e aprofundamento do Rio Tiête, que parece não ter feito muita diferença. 

E aí temos os desabamentos onde temos o maior número de vítimas. Percebem que os desabamentos geralmente acontecem na região da Grande São Paulo ou nas periferias. Isso me leva a crer que o problema habitacional (que faz parte da política também) contribui para gerar catástrofes. Regiões como Mairiporã, Caieiras, Franco da Rocha, Francisco Morato, entre algumas das que foram atingidas pelas forte chuvas, são regiões habitadas por pessoas mais pobres. Além de serem regiões de encostas e perto de matas o que contribui para os deslizamentos. Nessas regiões muitas pessoas são responsáveis por construir suas próprias casas, ou seja, em sua maioria não há estudo de topografia, engenharia e tudo o mais. Muitas vezes as casas já são construídas em região de risco. Mas e daí, a culpa é dos moradores? Não exatamente, mas eles assumem o risco. Claro que se houvesse um projeto urbano, um projeto de moradias decentes e o dinheiro destinado a isso não fosse desviado, grande parte dessas tragédias poderiam ser evitadas. 


domingo, 6 de março de 2016

Santos x Corinthians

Confesso que  eu não esperava muita coisa para o jogo de hoje. Primeira fase do Paulistão, valendo nada, com times em início de temporada e o Corinthians pensando em Libertadores. Eu apostaria em um empate. Jogo chato, feio e amarrado. Mas não foi isso que vimos esta tarde na Vila Belmiro, ainda bem.
O Santos forte como sempre em seus domínios entrou em campo para ganhar e quebrar a invencibilidade do Corinthians na temporada e no Paulistão (o time de Parque São Jorge não perdia nenhum jogo do Campeonato Paulista desde 2014. Ano passado foi eliminado pelo Palmeiras nos pênaltis). 
Já o Corinthians parecia que sofria do mesmo mal que aflige o time do São Paulo, falta de vontade. Entrou em campo com meia dúzia de jogadores diferentes dos que enfrentaram o Independiente Santa Fé na quarta-feira, mas isso não justifica a apatia do time, afinal o Timão ainda não pode dizer que tem um time titular. Diferente das outras partidas em que mesmo jogando mal o Corinthians tem conseguido bons resultados, nem que seja nos últimos minutos, o time de hoje não mostrou a mesma vontade. Os números do primeiro tempo foram pífios. Tudo bem que conseguiu a incrível proeza de jogar 46 minutos sem cometer nenhuma falta. Mas da mesma maneira que não cometeu faltas, também não jogou e terminou o primeiro tempo com um mísero chute a gol. Não ofereceu nenhum perigo ao goleiro santista. Se Vanderlei não tivesse entrado para jogar na etapa inicial não faria diferença.
Tite armou o time no 4-2-3-1, com Willians e Bruno Henrique como volantes, Danilo, Lucca e Romero na linha de três e Luciano no comando do ataque. A proposta não era ruim, já que o veloz time do Santos chega ao ataque com diversos jogadores como Lucas Lima, Gabriel, Victor Ferraz, Serginho e na frente tem o artilheiro Ricardo Oliveira. Porém o Corinthians parecia que jogava com o freio de mão puxado. Não tinha compactação na defesa e nem velocidade na transição para o ataque. Luciano não teve nenhuma oportunidade de gol, a bola não chegava e ele teve atuação apagada. Enquanto isso a defesa sofria com as investidas de Lucas Lima e cia. Os dois volantes corintianos não foram capazes de fazer o que Ralf fazia quando jogava contra adversários qualificados tecnicamente. Willians tem força física mas não é o Ralf e o Bruno Henrique não dá nem para comparar. Ele pode ter um bom passe (quando consegue acertar) mas não é capaz de dar segurança para a defesa e perde muitas bolas bobas. 
Em boa troca de passes e sem muita dificuldade o Santos chegou ao primeiro gol. Lucas Lima sem marcação (vejam no vídeo o Bruno Henrique atrasado correndo atrás dele), inverteu a bola da direita para a esquerda (sem ninguém interceptar) que encontrou Serginho também livre que chutou cruzado, Cássio espalmou como pode (não o culpo pela rebatida) e Ricardo Oliveira sozinho no meia da área pegou o rebote e só teve o trabalho de empurrar para as redes. A lambança da defesa foi completa. Yago marcou a bola e esqueceu do experiente goleador, Balbuena nem sabia quem marcar e Fágner correndo sozinho não consegue fazer milagre. Depois do gol o Santos continuou jogando bem e criando chances. O Corinthians continuava sonolento. Geralmente o time paulista quando vai mal no primeiro tempo volta com ajustes para a segunda etapa, promove mudanças e busca a reação. De fato voltou melhor no segundo tempo, Alan Mineiro entrou no lugar de Romero e depois André no de Luciano. Mas faltou aquele ímpeto de outras partidas, de querer buscar o resultado. Danilo foi para a ponta direita, criou boas chances mas a bola cruzada para área não encontrou André. Nas raras ocasiões em que a equipe chegava ao ataque era pelos pés de Lucca, que tem péssima finalização. O Lucca tem ganhado chances no time titular e recebido alguns elogios, mas as vezes passo raiva com ele. Tudo bem que ele desempenha um bom papel tático, corre bastante, ajuda na marcação e tudo, mas no ataque ele é pouco efetivo. Sempre que recebe a bola em profundidade na ponta esquerda, ou ele recua a bola para o lateral, ou ele corta para dentro para tentar cruzar mal ou chutar pessimamente em gol. É um bom jogador para se ter no elenco. Rende bem quando entra no decorrer do jogo, mas para mim como titular não dá. Falta qualidade técnica. 
O jogo no segundo tempo até melhorou, Alan Mineiro que fazia sua estreia hoje não ia mal, até que deu um pelo passe de peito para armar o contra ataque santista, e a bola sobrou para ninguém menos que Ricardo Oliveira que cara a cara com Cássio não perdeu a oportunidade de aumentar o placar.
O Santos jogou melhor e mereceu ganhar. O Corinthians parecia que estava fazendo jogo treino. Jogou mal e como dizem alguns não conseguiu "achar" um gol no final. Mas é o tipo de derrota que é boa, no momento em que não interfere na sequência da temporada. Serve para corrigir erros e mostrar que nem sempre o gol sai na base da paciência e da pressão no final. É preciso criar mais, ser mais efetivo e mais intenso. O que eu achei que seria um jogo morno, foi um bom jogo e serviu para as duas equipes testarem seus elencos.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Libertadores 2016

O post está um pouco atrasado, mas não poderia deixar de deixar algumas observações sobre o início da Libertadores antes de o bicho começar a pegar. Até porque previsões, especulações e palpites é uma coisa e no decorrer da competição muitas vezes somos surpreendidos.

Corinthians: Depois do desmanche Tite mais uma vez se mostra capaz de reconstruir o time e manter o padrão de jogo. É claro o time ainda sofre com a falta de entrosamento e de boa condição física com os reforços, mas vai usando o Paulistão para dar forma ao time. Não tem jogado bem mas tem conseguido resultados. Talvez nesse momento resultados sejam melhores do que jogar bonito. No primeiro jogo no Chile, jogou mal, sofreu com a marcação do Cobresal, faltou muitas vezes técnica para por a bola no chão e dar cadência ao jogo. Mas conseguiu um gol no finalzinho do jogo que lhe valeu os três pontos, é certo que foi contra, mas foi também insistência de um time que mesmo não apresentando um futebol exuberante busca o gol e aproveita as oportunidades que tem para marcar e buscar os resultados que precisa.

São Paulo: Um pouco diferente é o time do São Paulo, no papel é uma boa equipe, mas na prática parece que falta vontade. O time do São Paulo com novo treinador e alguns reforços está tentado ter um padrão de jogo e acertar o time. Tem muita posse de bola, mas cria pouco. Se esquece que posse de bola não é sinônimo de vitória, não adianta ter a bola e não ter gana de ganhar, de fazer o gol, de brigar e acreditar em cada bola. Além de não vir se apresentando bem, teve dificuldades na pré-Libertadores contra o limitado César Vallejo e conseguiu a façanha de perder para o The Strongest em casa. Tem feito muito pouco pelo elenco que tem e e os problemas internos e crises acontecem com muita frequência e afeta o ambiente de trabalho. Em um grupo que tem River Plate, atual campeão, perder para o The Stronguest em casa é péssimo, mesmo porque a equipe boliviana costuma usar o fator casa/altitude para faturar nove pontos em seus domínios. O derrota do São Paulo o colocou em situação complicada, mas como falei uma coisa são palpites, a outra é o jogo jogado. O River na última edição é prova de que dentro de campo tudo pode acontecer.

Palmeiras: O Time do Palmeiras era um dos que parecia mais pronto no começo de temporada. Manteve o treinador e time do ano passado, além de trazer reforços. O Palmeiras tem um elenco numeroso, que não consegue formar um time. Falta padrão de jogo e talvez falte jogadores que possam fazer a diferença. O meio de campo cria pouco, tem muitos jogadores de marcação e poucos de criação. Para mim ainda é uma incógnita. Começou empatando fora de casa que não é um mau resultado, mas não vem se apresentando bem e a pressão sobre Marcelo de Oliveira parece que tem gerado mal estar e fagulhas de crise as vezes parecem querer aparecer.

Atlético Mineiro: Dos clubes brasileiros parece ser o que chegou mais pronto nesse início de temporada. Perdeu poucos jogadores e trouxe reforços. O Atlético a várias temporadas tem conseguido manter sua base, tem sempre entrado nos campeonatos para brigar por títulos. Tem um bom time, dinâmico, bem treinado, apesar de ter trocado de técnico, Diego Aguirre conseguiu manter a essência do futebol que time mineiro tem apresentado nas últimas temporadas. Na primeira rodada, ganhou de virada fora de casa. Ótimo resultado. Não assisti ao jogo, vi apenas alguns lances, mas o time atleticano parece realmente estar bem preparado para essa Libertadores. Hoje estreia em casa contra o Independiente del Valle e deve estrear seu mais ilustre reforço. Repatriado da China Robinho vem para mostrar se pode ser um novo Ronaldinho Gaúcho e ser o maestro/garoto propaganda desse time. Resta saber se ela ainda tem lenha para queimar.

Grêmio: Não vi o jogo de estreia do Grêmio na Libertadores e nem tenho acompanhado o time gaúcho. Também é um time que manteve sua base e seu treinador e teoricamente está mais pronto nesse início de temporada. Perdeu fora de casa na estreia para o Toluca do México, não é um péssimo resultado. O grupo não é fácil, mas é preciso esperar as próximas rodadas para ver como vai ser o desempenho das equipes.  Vou tentar acompanhar as próximas rodadas para avaliar melhor o tricolor do Ria Grande do Sul.

Enfim ainda é muito cedo para definir favoritos e arriscar palpites. Muitos times ainda nem estrearam e muita coisa ainda pode acontecer. Para alguns grupos hoje já começou a segunda rodada, dos clubes brasileiros apenas o Atlético-MG joga hoje, contra um time sem tradição e podendo somar 6 pontos em dois jogos garantindo a liderança do grupo. Na próxima semana teremos mais emoção com Corinthians, Palmeiras, Grêmio e São Paulo entrando em campo, principalmente com os dois últimos tendo que correr atrás do prejuízo.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Que zika é esse vírus

No último fim de semana tivemos o Dia Nacional de Combate ao Aedes aegypti, eu fui a trabalho participar da ação feita no CEU Jambeiro em Guaianazes. Estavam nosso ilustre prefeito Fernando Haddad e o secretário de saúde Alexandre Padilha. O que teve de novo e diferente? Nada. Foi somente uma ação em que os governantes vão em bairros da periferia mostrar que estão empenhados em resolver o problema. A assessoria de imprensa manda releases e os jornalistas vão em peso para tirar foto e fazer entrevistas, mostrando as autoridades como a "mão na massa". Me desculpem ser um pouco crua, mas é somente isso. O governo escolhe um dia para mostrar que se importa e está fazendo alguma coisa. Na prática isso é bobagem. O dia de mobilização contra o Aedes deve ser todo dia. Só que eu me lembre estamos em luta contra o mosquito a pelo menos dez anos. Eu morava em Santos a quase quinze anos atrás e já se falava em epidemia de dengue. Pois é, de lá para cá o discurso pouco mudou. o que mudou mesmo foi o mosquito, ele está ficando "mutante".Antes era só a dengue, agora já temos a Chikungunya e agora a Zika, que só teve destaque por causa dos surtos de microcefalia e a chegada das Olimpíadas no Rio. Só quando as pessoas de fora se preocupam é que resolvemos fazer alguma coisa.
Vamos aos fatos, os sintomas do Zika vírus são mais brandos que o da própria dengue e por enquanto mata menos. Se fosse só isso nem estaríamos dando bola. O vírus provavelmente começou a se desenvolver no Brasil ainda em 2013 e sabem por que?
Na Copa das Confederações recebemos a fraquíssima, porém simpática e carismática seleção do Tahiti (alguém se lembra das memoráveis goleadas sofridas por essa seleção?), que ficou pouco tempo por aqui e esteve baseada em Recife. E o que isso tem a ver com o Zika vírus? Bem alguns anos atrás houve um surto de Zika vírus na Polinésia Francesa, local onde está localizado o Tahiti. Os sintomas da doença são muito leves e pouco se sabe ainda sobre ela. Nós recebemos a delegação do Tahiti, que curiosamente ficou em Recife, local onde teve início o surto de Zika no Brasil e onde começaram as primeiras associações da microcefalia com o vírus. Será coincidência? Não posso afirmar que há relação entre esses fatos, mas é para se pensar. A doença ainda é nova, há pouco estudo a respeito, pode até ser que estejamos enganados e que a microcefalia tenha sido causada por outros motivos, mas até lá é melhor cautela, não acham?
Outro fato que me chama atenção. Me parece que os brasileiros tem pouca informação e em alguns casos pouca preocupação com esse tipo de epidemia. Se houvesse de fato uma luta contra esse mosquito, já não era o caso da situação estar controlada? Porque dez anos depois de eu começar a ouvir e ver campanhas contra o Aedes, ainda estamos lutando e vendo o mosquito vencer. Nosso glorioso Ministro da Saúde e nossa ilustríssima Presidente, não estão totalmente errados. Tenho a nítida sensação que essa guerra já teve inúmeras batalhas perdidas. E o que falta para mudar essa situação? Muita coisa. Para começar é errado o governo jogar toda responsabilidade na população, como se somente a nós coubesse essa luta. Devemos fazer nossa parte, mas é fácil dizer que 85% dos criadouros estão dentro das casas. E a falta de saneamento básico, e o lixo acumulado nas ruas, e a falta de manutenção nos espaços públicos, e o descaso com as periferias que sofrem com inúmeros problemas. Ao questionar o secretário de saúde de São Paulo sobre a relação entre enchente e proliferação do mosquito, eu ouvi que a relação é zero, será? E sabe o que mais, ele me disse que enchente é até bom porque a água que vem lava e remove os focos de proliferação do mosquito. Será que quem mora nas regiões que sofrem com as enchentes concordam com o secretário? E depois para limpar a sujeira, e a quantidade de móveis e outros objetos que se estragam e muitas vezes ficam sem o descarte correto, não acumulam água, não viram lixo pelas ruas e córregos da cidade? Não tenho estudos sobre a relação entre enchente e dengue (ou qualquer outras das doenças), mas a colocação foi extremamente infeliz. Nenhuma das duas coisas deveriam acontecer, nem enchente e nem essa luta sem fim contra o mosquito.
Outo ponto que eu queria destacar é o fato de muitos acharem que os "gringos" estão exagerando. Será que se fossemos um pouquinho mais "exagerados", a situação não estava melhor controlada? Aqui a gente costuma levar tudo numa boa, inclusive os problemas, as doenças, as epidemias, os novos vírus e por aí vai. Eu vivi no Japão e lá ao menor sinal de uma nova doença ou epidemia, já é feito um controle rigoroso tentando evitar a proliferação e disseminação da doença. Sem contar que todo mundo passa a usar máscara (sim, como aquelas cirúrgicas) em lugares públicos.
Rapidamente só para ilustrar o que estou dizendo. Quando regressei ao Brasil, estávamos no auge da gripe suína. Cheguei ao aeroporto e o posto da vigilância sanitária estava fechado, as filas para desembarque estavam enormes, aquela aglomeração de pessoas, nem sequer me questionaram sobre nada (origem, qualquer tipo de sintoma ou algo assim). E tem mais, eu trouxe minha gatinha do Japão, fiz todo o procedimento necessário porque fiquei morrendo de medo que detivessem ela no aeroporto por alguma questão de vigilância sanitária e enfim porque há toda uma burocracia e protocolos a se seguir quando viajamos com animais. Somente no meu voo tinha cerca de quatro animais de estimação. Depois de aguardar quase 1 hora para a liberação dos animais, minha gata e todos os outros animais foram liberados porque não tinha veterinário de plantão, ou seja, não olharam sequer para ver se dentro da gaiola tinha um gato ou um porco. Por isso me choca que nós estejamos tão "take it easy" com essas questões, mesmo sabendo que nosso sistema de saúde é uma caos e é melhor torcer para não ficar doente do que enfrentar uma fila do SUS. Ah e outra, quando cheguei do Japão importei o costume de usar máscara no transporte público durante o inverno a fim de evitar contaminação por gripe, resfriados e outras "cositas mas". Logo abandonei o hábito, me senti um ET andado de metrô com aquela inofensiva máscara. Sem contar que me olhavam com aquele ar de pena, como se eu tivesse uma doença gravíssima ou estivesse a beira da morte. O constrangimento foi tanto que preferi enfrentar as aglomerações e suas possíveis infecções cruzadas. Bom assim vamos criando resistência. Mas é claro não se esqueçam que não é somente nós que ficamos resistentes, os vírus, mosquitos e afins também. Já passou da hora de revertermos essa batalha e acabar com o Aedes. Vamos fazer nossa parte, mas também cobrar para que cada um faça a sua, inclusive governos municipais, estaduais e federal.

http://digital.asahi.com/articles/ASJ2H23SSJ2HUHBI003.html

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

O perigo nuclear

11-
Teste realizado com a bomba de hidrogênio
Hoje me causou perplexidade a Coreia do Norte anunciar com orgulho que realizou com sucesso o teste com a bomba de hidrogênio. O que ainda gera um pouco de alívio foi ver as reações de repúdio que alguns países e governos tiveram em relação a esse episódio. Em meio a tantos problemas globais, como a crise dos refugiados, as ações do Estado Islâmico e do Boko Haram e o clima de tensão causado pelas ameaças terroristas, o egocêntrico (para dizer o mínimo) ditador Kim Jong-Un não sem conteve de estar em segundo plano e se utilizou de uma ferramenta sórdida para chamar a atenção.

Para quem não sabe a bomba de hidrogênio ou termonuclear é muito mais potente do que a bomba atômica. A bomba atômica funciona a partir da fissão nuclear de urânio (Hiroshima) ou plutônio (Nagasaki) causando um choque que divide o núcleo desses elementos em partes menores gerando uma reação em cadeia liberando energia e causando a explosão. Já a bomba de hidrogênio funciona a partir da fusão nuclear, ou seja, ao invés dos átomos se quebrarem, eles se juntam antes da explosão, o que dá essa bomba um poder de destruição inimaginável. Em um teste realizado com a bomba de hidrogênio pelos EUA no Sul Oceano Pacífico detonou uma bomba com poder equivalente a 10 megatons ou 10 milhões de toneladas de TNT.

Em Hiroshima a bomba de urânio, com o poder de destruição equivalente a 16 toneladas de TNT, causou a morte de cerca de 140 mil pessoas, dentre as 350 mil que estimou-se estar na cidade que teve mais de 80% de seu território destruído.
A bomba de Nagasaki feita de plutônio era mais potente, equivalente a 22 toneladas de TNT. Mesmo não tendo acertado seu alvo principal e caído em um vale montanhoso ainda matou 80 mil pessoas.
Esses são os exemplos das duas únicas bombas atômicas usadas contra pessoas. E porque eu digo contra pessoas? Porque cada vez que um teste é realizado seja no mar ou no deserto, milhares de vidas são dizimadas e muitas vezes nem tomamos conhecimento. Quem quiser saber mais pode procurar pelos testes realizados no Atol de Bikini e no Atol de Muroroa.

Depois da corrida nuclear em que vários países criaram programas para desenvolver suas próprias armas nucleares, entre eles Rússia (na época URSS), Índia, França, Grã Bretanha, China, Coreia do Norte, Paquistão, além dos EUA, vários tratados foram assinados com o objetivo de proteger o mundo de uma catástrofe.
O tratado de não proliferação de armas nucleares (NTP - Non-Proliferation Treaty) foi assinado por 190 países. Entre os que não são signatários desse acordo estão Paquistão, Índia e Israel (que não admitiu testes nucleares, mas nunca negou o desenvolvimento desse tipo de arma). A Coreia do Norte que havia assinado o acordo, se retirou do tratado em 2003 (provavelmente para poder ter atitudes como essa de hoje e aterrorizar o mundo).

O que aconteceu hoje serve de alerta. Todos que foram vítimas das bombas atômicas e da radiação são defensores do banimento das armas nucleares do mundo. Porque esse é um risco que não precisamos correr. A radiação é perigosa até quando é usada com um bom propósito, basta vermos o que aconteceu em Fukushima. Uma bomba nuclear ou termonuclear certamente causaria a nossa extinção. 

  

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

De volta ao trabalho

Depois de quase 4 anos de ausência vou retomar meu trabalho no blog. Percebi que há muitas coisas para serem observadas e discutidas e aqui é um espaço que quero cultivar para expressar ideias e trocar ideias.
Olhando meu último post (sobre o Barcelona) percebo que apesar do tempo que passou o assunto continua atual. Algumas coisas acontecem de forma cíclica, outras mudam radicalmente e feliz ou infelizmente existem coisas que não mudam nunca.
Vou fazer um breve atualização dos principais fatos que aconteceram e daqui por diante me manterei atualizada.
Nos últimos anos desde a última vez que escrevi vejam só, o Corinthians ganhou tudo e o Tite se tornou "o cara" entre os técnicos do Brasil, mas o Brasil perdeu a Copa em casa de goleada (nem preciso relembrar os detalhes), e quem assumiu a seleção depois do vexame foi o Dunga, que nunca ganhou nada como técnico. O futebol do time canarinho vai mal das pernas e ainda para ajudar a Fifa entrou em colapso e o FBI está fazendo a limpa na cartolagem corrupta ( surpreendentemente tem coisas que mudam), a cúpula da CBF anda em apuros agora, e sobre o futuro do futebol brasileiro nos resta esperar para ver o que vai acontecer.
Na política as coisas vão mal, a Dilma se reelegeu em uma disputa acirrada e suja e agora o Brasil amarga uma recessão econômica que a tempos não se via. Aumento da inflação, queda do PIB, economia e mercado de trbalho instáveis e o governo rebolando para fechar as contas.
Já São Paulo continua caótica e além do normal agora temos racionamento de água, fechamento de escolas, ruas de lazer e muitas faixas exclusivas  ( para ônibus, bicicleta, pedestre), só que continua difícil organizar tudo isso. As obras do metrô vão a passo de tartaruga, assim como os carros nos congestionamentos e as bicicletas tentam ganhar espaço nessa loucura.
O setor de serviços no Brasil continua ruim, o McDonalds continua trash, a Starbucks se proliferou para salvar o nosso momento relax/café, um raio gourmetizador atingiu quase tudo e comer fora está cada vez mais caro. Agora com a crise que tem dinheiro vai para o exterior, fugir dos altos preços, da violência, da falta de perspectiva e dos pobres que vão voltar a viver como pobres e se virar para ter o básico, pagando caro para isso e sem muita perspectiva de futuro.
No cenário internacional tivemos Primavera Árabe, a queda de ditadores, a ascensão do islamismo radical, a crise de refugiados, atentados que chocaram o mundo e as catástrofes naturais não deram trégua, assim como a fome e pobreza na África e as guerras civis espalhadas pelo mundo que matam milhares todos os anos.
Cuba finalmente se abriu e iniciou um diálogo com os EUA, tudo isso intermediado por um papa argentino (primeiro sul-americano a receber tal título) de nome Francisco, que segue a linha popular e carismática de João Paulo II.
O Rio de Janeiro continua lindo e com bala perdida, arrastão na praia, guerra ao tráfico, invasão de favelas e tudo o mais, mas vai receber as Olimpíadas e ainda ninguém sabe o que esperar. Claro que o orçamento estourou, o prazo está apertado, promessas não serão cumpridas e muita gente está insatisfeita, mas a gente já passou isso na Copa e agora estamos aprendendo a lidar com os elefantes brancos. Não que seja novidade, mas uma epidemia dessa espécie a gente não estava acostumado, assim como nos acostumamos com o Aedes Aegypti que a princípio trazia a dengue no verão. A doença virou epidemia o ano todo e se transmutou, chegaram também a chikungunya e a zica, tudo transmitido por um insignificante mosquito que ninguém sabe como combater.
Bom muita coisa aconteceu, é difícil relembrar e resumir tudo. Na medida do possível vou me aprofundando sobre alguns pontos.
E quanto a mim, também mudei e fiz bastante coisas, mas é mais fácil resumir. Concluí a faculdade, comecei a trabalhar para o jornal japonês The Asahi Shimbun onde estou até hoje e participei de muitas coberturas interessantes, como as manifestações, eleições, coberturas políticas e esportivas. Fiz bastante entrevistas legais, conheci muita gente e aprendi várias coisas bacanas. Descobri que eu tinha falha no processamento auditivo, que me levou a um quadro de TDAH, estou em tratamento e isso me levou a descobertas interessantes. Depois de muitas dietas e engordar e emagrecer mil vezes, fui em um nutricionista e estou em processo de reeducação alimentar (não é exatamente fácil, mas é bom e o resultado é real) e esse ano prometo que vou levar o treino na academia mais a sério (se o tempo me permitir). Além da Bia, agora tenho um novo gatinho, o Dudu, que é o meu xodozinho. Ainda não tenho filhos, mas tenho dois afilhados que eu adoro.
E talvez o mais importante, eu me envolvi em um trabalho de pesquisa para o meu TCC com um grupo de sobreviventes da bomba atômica que vivem no Brasil e o trabalhou resultou em um livro. Adeus, Hiroshima - sobreviventes da bomba recomeçam a vida no Brasil, teve um pré-lançamento em setembro do último ano na Livraria Cultura do Bourbon Shopping, em um evento que marcava os 70 anos da bomba e do fim da Segunda Guerra. Agora estou em negociação com uma editora e batalhando para enfrentar a burocracia de se distribuir um livro no Brasil. Ocorrerão mais eventos de divulgação e espero que em breve esteja disponível em todo o Brasil. Vender livro no Brasil não é fácil, mas depois conto mais detalhes sobre isso.
Para mim 2014 foi um ano de muitas conquistas e 2015 vem cheio de projetos. Espero esticar ao máximo meu tempo para poder fazer tudo e não deixar nada pelo caminho. Dessa vez realmente não quero deixar o blog em segundo plano. Quero fazer e agregar cada vez mais coisas. Vou dando notícias. Meu twitter e linkedin estão ativos e finalmente vou me render ao Facebook (não tive escapatória) e em breve estarei  no Instagram também.
Um ótimo 2016 à todos!!!